"Ter filhos e criá-los é cada dia gerar e pari-los outra vez, sem descanso."
Lya Luft, Perdas e Ganhos.
Lya Luft, Perdas e Ganhos.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
Muito bom! Vale a pena ler...
Texto muito bom!
Extraído do blog
http://colunas.g1.com.br/instanteposterior/
Baseado na observação de anos anteriores é possível afirmar que, a partir do último dia 15, teve início, extra-oficialmente, o final do ano. Sei que parece um pouco leviano precisar uma data para estabelecer o começo de um período, mas, o dia da proclamação da República é, ou pelo menos foi- até o surgimento do dia da consciência negra- o marco definitivo para o desencadeamento de uma série de hábitos bastante sazonais.
Reparem que o final do ano é apenas um estado de espírito, uma impressão, assim como aquela que considera o mês de março como o primeiro do calendário brasileiro. Nem precisa dizer que ambas as épocas afetam diretamente a vida de todos nós. Na indústria fonográfica, por exemplo, existe uma máxima: ou se lança um disco até dezembro ou só depois do carnaval. E não há registro de quem tenha feito diferente.
Em 2007 surpreendeu o aparecimento precoce das caixinhas de Natal pois, tradicionalmente, o primeiro indício do final do ano é mesmo a decoração natalina das lojas de departamento. Você vai até uma delas afim de comprar um jogo de talheres ou um cesto de roupas para o banheiro e é bombardeado com aquele tema instrumental natalino estilo “Richard Clayderman” se repetindo à exaustão. Esse tipo de música deve provocar a liberação de algum hormônio mantido em segredo pela ciência que, sem motivo aparente, te faz chegar em casa já com vontade de arrumar as gavetas. Daí, caros leitores, tudo segue num incontrolável efeito dominó.
Arrumando as gavetas você começa a pensar no ano que passou; nas conquistas, nos erros, nos acertos, no que poderia ter sido feito diferente. Lembra dos amigos queridos, com quem gostaria de ter passado mais tempo, e resolve ligá-los para saber como anda a vida. Sentado no sofá da sala, se emociona com o comercial de um banco, daqueles que nos deixam confiantes de que no próximo ano seremos pessoas melhores. Volta para o quarto e resolve separar metade de suas roupas para doação. À noite, define resoluções e sente um súbito desejo de comer damasco e rabanada.
No trabalho ou na sala de aula, alguém encabeça um movimento em prol do churrascão de fim de ano ou do amigo oculto (este último será tema de um texto futuro). Os calendários estão por todos os lados, e contas, todo mundo faz contas, tendo muitas vezes o décimo terceiro totalmente comprometido pelos gastos adicionais, antes mesmo de recebê-lo. Com tantos sentimentos e atribulações em jogo o difícil é encontrar motivação para produzir, porque, se esse ano está quase terminando, não seria mais sensato poupar esforços para o próximo?
Chegar atrasado ou deixar de cumprir alguma obrigação, nessa época, costuma ser menos grave do que em outros meses, afinal, há muito que ser feito, e todos estão fazendo o melhor que podem. Para quem estuda, existe o pesadelo das provas finais, e a idéia de um Natal próspero com a família se submete a bons resultados educacionais. Papai-Noel e professores costumam representar um antagonismo digno dos melhores folhetins.
Sobretudo o fim do ano representa um período de provação. Em pouco mais de um mês estará em jogo tudo o que foi feito por você nos últimos onze. Durante boa parte da minha adolescência, somado a tudo que foi citado, havia ainda as audiências de teclado da professora Lea. Cada um de seus alunos subia no palco e tocava o seu melhor, tendo como platéia os familiares, os outros alunos, e as câmeras de vídeo, providenciais para o registro eterno. Eu ficava tão nervoso que, se pudesse, pularia de novembro direto para janeiro. Bom, se existe algo semelhante em sua vida, estou certo de que acontece também nessa época.
Odiado por uns, aguardado ansiosamente por outros, ele não permite escapatória. Impõe-se onipresente trazendo consigo a reflexão, o amor ao próximo, a preguiça e muitos, muitos gastos. De hoje em diante esteja atento para perceber os indícios, pois o final do ano já começou!
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